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TEA E MEDICAÇÃO: A ESCOLHA DE SOFIA


No início de nossa vida “pós-diagnóstico de filho”, eu e meu marido éramos do tipo de pais totalmente resistentes a qualquer possibilidade de uso de medicação por nosso filho. Confesso que já me peguei julgando alguns pais cujos filhos com TEA faziam uso de medicação como se aqueles fossem preguiçosos ou estivessem, simplesmente, escolhendo o caminho mais fácil.


Porém, fato foi que após mais de três anos de intervenção intensiva pudemos perceber que, apesar de nosso filho estar se desenvolvendo muito bem, de uma maneira geral, havia alguns pontos de entrave onde os avanços continuavam difíceis, apesar das terapias e mudanças na rotina familiar. Sendo assim, começamos a amadurecer a ideia de que, em algum momento, o médico iria sugerir intervenção medicamentosa e que precisávamos ter em mente qual seria nossa resposta a isso. Chegamos a um acordo que, caso isso fosse proposto, iríamos fazer a experiência.


Há cerca de um mês, este dia chegou e Bernardo iniciou o uso de aripiprazol. Até o momento, a adaptação à medicação tem sido tranquila, mas dizer qualquer coisa sobre agora seria muito precoce e nem é minha intenção. Penso apenas em trazer alguns pontos para reflexão para os pais que estão em dúvida no que diz respeito a acatar ou não sugestão médica sobre o início do uso de medicação, quando isso acontece.


Em primeiro lugar, avalio como fundamental que os pais escolham como médico do filho alguém em quem consigam construir e manter uma relação de confiança. Isso não significa aceitar tudo o que for proposto, mas sim confiar que o profissional é alguém responsável, que não pensa na medicação como primeira (ou única) alternativa.


Cabe pensar também que, do lado extremo aos casos de irresponsabilidade e arbitrariedade no que diz respeito à medicalização da infância, podemos ter também uma cultura de demonização dos remédios como se o uso destes fosse maléfico em 100% dos casos. Por um lado, é sabido que a prescrição indiscriminada de remédios é algo extremamente questionável e perigoso.


Entretanto, em alguns casos, privar uma criança de ter acesso ao que há de evolução em termos de ciência e que poderia auxiliar em seu desenvolvimento, aprendizado e qualidade de vida, pode caracterizar negligência e prejudicá-la.


O médico renascentista Paracelso disse:

“Todas as substâncias são venenos, não existe nada que não seja veneno. Somente a dose correta diferencia o veneno do remédio.”

Vale também manter em mente que não há “pílula mágica” ou remédio cujo consumo não possa trazer efeitos adversos. Sendo assim, a medicalização é uma decisão séria que não pode ser banalizada ou ser tomada caso não existam prejuízos reais na vida da criança que justifiquem o uso de tais substâncias. Os prós e contras devem ser considerados, para que a decisão seja tomada de forma responsável e visando ao melhor interesse do infante.


Por fim, os pais não podem esquecer que este passo não é irreversível. Caso, após o início do uso dos remédios, a avaliação seja de que os danos estejam maiores que os benefícios, isso deve ser compartilhado com o médico para que este avalie ajustes ou até mesmo a suspensão do tratamento medicamentoso.


Um grande abraço e até a próxima!

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