Uma grande questão que se coloca assim que o diagnóstico ou a possibilidade diagnóstica de autismo é apresentada aos pais é a dúvida com relação ao grau do transtorno. Afinal, todo mundo sabe dar falar de algum “gênio excêntrico ou incompreendido” que é autista. Os próprios amigos e familiares costumam dar esses exemplos como uma forma de confortar a família que acabou de receber um diagnóstico, explicando que o filho poderá ser um físico famoso, um matemático brilhante ou o melhor jogador de futebol do mundo, por exemplo. Ok, isso pode acontecer, mas essa possibilidade de futuro não é a única e isso tem que ficar claro.
Sempre fui muito pé-no-chão com relação a isso, no sentido de não criar expectativa com relação a existência de alguma genialidade ou habilidade excepcional no meu filho. Mesmo porque, além destas possibilidades, existem várias outras nem sempre tão coloridas e nem tão “azuis”no mundo do autismo.
Os médicos acabam sendo cobrados pelos pais a dar alguma garantia no sentido de qual seria o grau do autismo do filho e como seria o desenvolvimento da criança. Imagino que seja uma situação difícil, pois, ao mesmo tempo em que estes não querem deixar os pais mais fragilizados do que já estão, não podem dar como certas conquistas incertas no que diz respeito ao desenvolvimento futuro da criança.
O psiquiatra do Bernardo adotou uma postura que julgo muito ética, apesar de não ser o que eu queria ou esperava escutar. Quando perguntei, logo na primeira consulta, qual o grau do autismo do meu filho ele disse que seria impossível prever, pois isso iria depender da resposta dele às terapias e, em especial, ao fato de haver ou não aquisição da linguagem verbal.
Quase caí da cadeira! Afinal, gostaria de ter escutado: É um grau muito leve, possivelmente será um gênio da matemática ou música e te garanto que ele irá falar em breve, na semana que vem.
Seria mais fácil para o médico dizer isso, mas seria o correto? Afinal de contas, apesar da possibilidade de o Bernardo nunca falar ser algo que até então não havia passado pela minha cabeça, ele como psiquiatra infantil sabia que a possibilidade existia e que nós deveríamos considerá-la.
A questão é que apesar dos pais estarem fragilizados e quase implorando por alguma garantia, seria irresponsável por parte do profissional se colocar nesse lugar de oferecê-las, sendo que ele também não as tem. Mesmo porque autistas graves, leves e moderados podem apresentar comportamentos bem parecidos aos dois ou três anos de idade. Qual será o grau do transtorno é algo que só poderá ser verificado bem mais à frente. Infelizmente, não é uma pergunta que pode ser respondida na primeira consulta, nem na segunda ou na terceira.
Com relação a isso, meu posicionamento é: É melhor pecar pelo excesso (de terapias e intervenções) do que pela falta. É melhor olhar para trás e pensar: “Não precisava ter feito tanto” do que “Deveria ter feito mais”. Ou seja, agir como se o grau fosse o grave até que se prove (ou não) o contrário.
Se seu filho é pequeno e ao perguntar sobre o grau do autismo dele, o médico preferiu te dar um choque de realidade a ser “fofo”, agradeça.
Um grande abraço e até a próxima.
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