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AUTISMO E PREOCUPAÇÃO COM O FUTURO



Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. Mateus 6:34

Logo após o diagnóstico do Bernardo, eu entrava em pânico ao pensar em como seria a vida dele nos próximos anos. Quando o neurologista infantil disse: “Não se preocupe com o futuro” e eu respondi: “Impossível”, eu falava muito sério. Isso tirou meu sono por bastante tempo. Mas, ao longo dos últimos anos, muita coisa mudou e lido com o assunto com muito mais tranquilidade.


Não vou ser hipócrita: O fato de meu filho, desde o começo das intervenções, ter tido uma boa resposta às terapias e ter um bom prognóstico, facilitou bastante esse processo. Entretanto, definitivamente, minha mudança de pensamento e postura não foi causada apenas por isso e sim por uma decisão diária de viver um dia de cada vez, tentando realmente praticar o significado da expressão carpe diem, que tenho tatuada nas costas.


Obviamente, não estou sugerindo que os pais deixem de fazer tudo o que estiver ao alcance deles para promover o desenvolvimento máximo de seus filhos, nem que deixem de considerar as várias possibilidades que o futuro pode trazer e ou de se prepararem, na medida do possível, para elas. Porém, existe algo que ultrapassa o que é a tal “medida do possível” e sobre o que não possuímos nenhum tipo de controle. É necessário aceitar que algo nos escapa no resultado final, e que isso independe de tudo o que possamos fazer ou oferecer em termos afetivos, cognitivos ou financeiros.


Considerando todas as demandas que os cuidados com uma criança autista trazem, as dificuldades do dia a dia já são mais que suficientes em termos de preocupações para os pais e/ou cuidadores. Porém, existe uma diferença entre ser dedicado e precavido e em perder o momento presente tentando prever ou resolver mentalmente problemas ou questões que têm grandes chances de nunca se concretizarem. Em alguns casos, a pré-ocupação com um futuro distante se torna tão forte a ponto de afetar a energia que os pais têm no dia de hoje para investir no filho. Viver assim pode ser enlouquecedor, além de não resolver, efetivamente, muita coisa. Pelo contrário, se os pais estão adoecidos emocionalmente, os cuidados com os filhos podem ser prejudicados e isso sim pode acarretar em consequências no futuro dele, o que é um paradoxo. Pensar nisso me remete ao famoso texto do “filtro solar”:


“Não se preocupe com o futuro ou se preocupe se quiser, sabendo que a preocupação é tão eficaz quanto tentar resolver uma equação álgebra mascando chiclete… É quase certo que os problemas que realmente têm importância em sua vida são aqueles que nunca passaram por sua mente, tipo aqueles que tomam conta de você às quatro da tarde em alguma terça feira ociosa…”

Tem verdade maior do que essa? Impossível calcular o quanto de energia uma pessoa ansiosa como eu já gastou se preparando para problemas que nunca vieram. Da mesma forma, os problemas reais que enfrento hoje jamais haviam passado pela minha cabeça antes de baterem à minha porta. Provavelmente, será assim enquanto eu viver. Sendo assim, o que realmente desejo a mim e a todos nós é: Viva um dia de cada vez, carpe diem.


Um grande abraço e até a próxima!

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