Para mim, escrever sempre foi uma válvula de escape e foi a forma que encontrei de elaborar melhor as questões que surgiram quando passei a perceber características do TEA no meu filho. Após o turbilhão do impacto inicial do diagnóstico, não demorou que eu buscasse uma forma de dividir minhas experiências e reflexões com outros pais, o que se deu através da internet, há cerca de três anos.
Entretanto, acredito que, quando responsável, a opção de dividir a rotina/ experiências com os filhos na internet, a meu ver, acaba por trazer algumas reflexões : Em meu caso, a decisão de compartilhar as experiências de uma maternidade atípica perpassam também por uma questão de militância pela causa, que traz o desejo de multiplicar o pouco que aprendi que julgo que poderá auxiliar pessoas que encontram-se na mesma situação. Ademais, minha opção nunca foi tratar o autismo como algum tipo de demérito, tabu ou algo sobre o que não se possa falar (ou escrever).
Falando um pouco sobre a minha relação com o mundo virtual, em primeiro lugar, tenho a dizer que ela mudou muito no transcorrer destes anos, principalmente no que diz respeito ao tempo (cada vez menor) que estou disposta a despender on line. De qualquer modo, gostaria de propor uma reflexão sobre a alguns conteúdos, que muitas vezes são disseminados por pais e cuidadores nas melhores das intenções, de mostrar alguma espécie de “ autismo de verdade”, “a vida como ela é” ou algo do tipo, mas que acabam por gerar incômodo, mal-estar e sensação de uma exposição descriteriosa e vexatória de uma pessoa com deficiência que, possivelmente, não consentiu com aquilo.
Com relação a meu filho, decidi não publicar nada que venha acompanhado de fotos ou vídeos que o exponham de maneira que, no futuro, possa gerar algum tipo de desconforto. Se eu não posto, por exemplo, vídeo de ele rolando no chão do shopping, não é por isso nunca ter acontecido e eu querer vender algum tipo de ideia de “ autismo comercial de margarina” mas sim por, em primeiro lugar, pensar que tal exposição é desrespeitosa e, em segundo lugar, estar mais preocupada em manejar tais situações quando elas ocorrem que pegar o celular e filmar.
Além disso, cabe ressaltar o fato de que, mesmo quando os pais/responsáveis são respeitosos ao escolher a forma que irão expor uma vida que não é a sua, não podemos ignorar o fato de que quem opta por fazê-lo não possui garantias acerca da suposta ausência de problemas que isso irá trazer no futuro. De qualquer forma, se for para correr riscos, que sejam calculados, com intuito de contribuir para que a pessoa sob seus cuidados/tutela cresça com autoconfiança e sentindo-se bem na própria pele.
"Não tenho a pretensão de controlar as consequências em longo prazo da publicação desses relatos. Posso, unicamente, propor-me a enfrentá-las."
- Caroline Eliacheff
Um grande abraço e até a próxima!
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